Há muito a cúrcuma, especiaria asiática usada para dar cor e sabor a pratos, ultrapassou as fronteiras das cozinhas. Recentemente, ganhou o centro das atenções de cientistas, que passaram a investigar suas propriedades bioativas e potenciais benefícios para a saúde. Em abril, a revista Nutrients publicou um estudo conduzido por pesquisadores italianos que detalha os efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes da cúrcuma — também conhecida como açafrão-da-terra — e suas promissoras ações no cérebro.
A pesquisa traz à tona o funcionamento da curcumina, principal composto ativo da cúrcuma, e como ela age em diferentes vias do organismo. “Trata-se de uma revisão completa e atualizada, que comprova efeitos já conhecidos e traz novas perspectivas sobre a curcumina, o principal composto bioativo da cúrcuma”, comenta a nutricionista Gabriela Mieko Yoshimura, do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte, do Hospital Israelita Albert Einstein.
A curcumina integra o grupo dos polifenóis, pigmentos naturais com mais de 8 mil representantes. Nos vegetais, esses compostos atuam como defesa contra intempéries, radiação ultravioleta e outras adversidades ambientais. Já no corpo humano, destaca-se a capacidade antioxidante: neutraliza radicais livres, moléculas instáveis que danificam as células e promovem o estresse oxidativo, contribuindo para o envelhecimento e doenças.
Além de combater radicais livres, a curcumina também é conhecida por sua ação anti-inflamatória. O artigo italiano evidencia como ela reduz processos inflamatórios, principalmente no intestino. “A revisão mostra ainda efeitos na produção dos ácidos graxos de cadeia curta, o que contribui para a integridade da barreira intestinal”, diz Yoshimura. Essa barreira impede a entrada de substâncias nocivas na circulação, reduzindo inflamações e possíveis doenças.
Os cientistas acreditam que esses mecanismos podem ajudar na prevenção de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, e proteger contra inflamações associadas à obesidade. Outro ponto de destaque é o chamado eixo intestino-cérebro, via de comunicação que inclui neurotransmissores, como a serotonina, fundamentais para a sensação de bem-estar.
Mas nem tudo são flores: a pesquisa destaca a baixa biodisponibilidade da curcumina presente na cúrcuma usada como tempero. Isso significa que, apesar de seus potenciais benefícios, ainda não é possível definir uma quantidade ideal de consumo para garantir todos os efeitos positivos apenas pela alimentação. “São necessários mais estudos para determinar. Porém, as evidências mostram que a substância tem grande potencial”, afirma a nutricionista do Einstein.
Ela ressalta que a suplementação pode ser indicada, desde que sob orientação profissional. “Via suplementação já dá para assegurar a eficácia da curcumina — mas isso quando houver indicação de médico ou nutricionista”, explica.
A especialista também faz um alerta sobre o modismo em torno da cúrcuma: “Ele só vai agregar em um estilo de vida que contenha cardápio equilibrado, atividade física, gerenciamento do estresse e descanso adequado”. Segundo ela, não adianta recorrer aos famosos shots de cúrcuma, limão e gengibre em busca de milagres. “Consumir o que não gosta atrás de efeitos mágicos é atitude que vai contra a boa relação com a comida, afinal, a alimentação engloba o prazer”, enfatiza.
Na cozinha, a cúrcuma pode ser usada de diversas maneiras. Além do arroz, dá cor e sabor a sopas, caldos, ensopados, molhos, patês, aves, carnes e frutos do mar. Refogados com cebola, alho e óleo ajudam a liberar seus compostos bioativos. “Misturar com a pimenta-preta, fonte de uma substância chamada piperina, também ajuda na biodisponibilidade”, recomenda Yoshimura. Não à toa, o curry, tradicional na culinária indiana, combina cúrcuma, pimenta-do-reino e outras especiarias como gengibre, canela, cravo e coentro.
Uma bebida que potencializa a absorção é o chamado golden milk — ou leite dourado. “Essa bebida, que está mais popular por aqui, mas é tradicional na Ásia, traz a cúrcuma em pó, o leite, que pode ser até o vegetal, e a pimenta-do-reino”, sugere a nutricionista.
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