Sete em cada dez estudantes do ensino médio usam IA sem orientação adequada

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Ensino médio (Foto: Freepik)

Sete a cada dez estudantes do ensino médio que acessam a internet já utilizaram ferramentas de Inteligência Artificial (IA) generativa, como ChatGPT, Copilot e Gemini, para realizar pesquisas escolares. Apesar da ampla adesão, apenas 32% afirmam ter recebido orientações nas instituições de ensino sobre como empregar essas tecnologias. Entre os alunos do ensino fundamental, o uso também é identificado, mas de forma menor: 15% nos anos iniciais e 39% nos finais.

A média nacional considerando todas as etapas de ensino aponta que 37% dos estudantes utilizam IA generativa em suas atividades escolares, com apenas 19% relatando instrução por professores. Os dados constam da décima quinta edição da TIC Educação, conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), baseada em entrevistas realizadas entre agosto de 2024 e março de 2025 em 1.023 escolas, envolvendo 10.756 participantes, incluindo alunos, professores e coordenadores pedagógicos.

Uso das tecnologias fora da escola

Fora da sala de aula, jovens recorrem a plataformas digitais e sites para completar tarefas escolares ou estudar assuntos de interesse pessoal. As atividades mais citadas foram: buscar informações sobre conteúdos pouco compreendidos (86%), pesquisar para concluir trabalhos escolares (84%) e praticar conceitos aprendidos (78%). Dentre os recursos mais usados, 74% mencionaram sites de busca e 72% citaram canais de vídeo.

Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, comenta que “as plataformas de vídeo se tornam fontes de pesquisa tão relevantes para os alunos quanto os buscadores tradicionais”.

Renata Mielli, coordenadora do CGI.br, alerta para a necessidade de acompanhamento docente no uso da IA. Informações incorretas ou viesadas geradas pelas ferramentas podem interferir no aprendizado sem mediação adequada. “Principalmente, se considerarmos os limites que professores e o ambiente escolar ainda têm diante de uma tecnologia nova, e a ausência de orientações mais explícitas de como usar essas ferramentas”, reforça Mielli.

Nos últimos doze meses, 54% dos professores participaram de atividades de desenvolvimento profissional focadas em tecnologia educacional, com destaque para cursos de plataformas digitais (82%) e adaptação de atividades ao ritmo dos alunos (79%). Projetos de educação midiática e uso de IA em sala de aula mobilizaram 68% e 59% dos docentes, respectivamente.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) estuda tornar obrigatório o ensino de IA nos cursos de Pedagogia e Licenciaturas. Celso Niskier, relator do parecer, afirma que “é preciso incluir a obrigatoriedade da IA na formação inicial e continuada de professores, sob risco de ficarmos para trás nessa revolução digital”. Israel Batista, relator para a educação básica, observa que a retração na rede municipal reflete o fim do impulso emergencial da pandemia, mas ressalta que a adesão dos docentes a temas como educação midiática e IA indica avanço na preparação para combater a desinformação.

Infraestrutura digital nas escolas

Segundo a pesquisa, 96% das escolas brasileiras possuem acesso à internet, sendo que 88% têm conexão em sala de aula. Entre 2020 e 2024, escolas municipais passaram de 71% para 94%, e unidades rurais de 52% para 89%. No entanto, disparidades persistem: apenas 27% dos alunos de escolas municipais utilizam internet para atividades escolares, comparado a 67% nas estaduais. A disponibilidade de computadores também é limitada, principalmente em instituições menores ou localizadas em áreas rurais.

Quanto à oferta de atividades relacionadas a cyberbullying, privacidade e uso de IA, 89% dos coordenadores confirmam que as escolas abordam essas temáticas, mas não de forma contínua. Em 30% das instituições, os assuntos são tratados apenas quando surgem dúvidas, e em 49% das escolas, apenas uma ou duas vezes por ano.

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