
Filmes sobre casas mal-assombradas costumam seguir uma fórmula previsível, mas alguns diretores conseguem subverter essas expectativas. No caso de Steven Soderbergh, a proposta em Presença foi transformar uma história de assombração em um drama familiar.
Disponível no Prime Video, o filme inova ao acompanhar a mudança de uma família para uma nova casa pelo ponto de vista da entidade sobrenatural que já ocupava o lugar antes deles chegarem.

A identidade do fantasma
No desenrolar da trama, descobrimos que a jovem Chloe está lidando com a morte recente de duas amigas, supostamente por overdose. Em meio às tensões familiares, ela inicia um relacionamento escondido com Ryan, amigo de seu irmão Tyler.
A presença, que ao longo da trama se mostra protetora, principalmente em relação a menina, demonstra desconforto crescente conforme Ryan se aproxima, até que intervém diretamente quando ele tenta dopa-lá.
O ponto de virada acontece quando os pais viajam e Ryan retorna à casa. Dessa vez, ele dopa Tyler para garantir que nada atrapalhe seus planos com Chloe. Mas é justamente nesse momento que a presença toma uma atitude mais direta.
A entidade desperta Tyler, que, ainda sob efeito da droga, confronta Ryan. Durante o embate, ambos caem pela janela do segundo andar. Tyler morre ao tentar proteger a irmã, e é somente então que entendemos que o próprio Tyler era a presença misteriosa em uma manifestação sobrenatural anterior à sua morte.

O paradoxo da existência
A presença de Tyler como espírito antes mesmo de sua morte levanta questões que não são diretamente respondidas pelo filme.
De acordo com Lisa, a médium que visita a casa, espíritos podem estar deslocados no tempo e nem sempre sabem quem são ou por que estão ali.
No caso de Tyler, tudo indica que sua culpa e necessidade de redenção foram tão intensas que sua versão pós-morte retornou para corrigir seus erros em vida.
O comportamento protetor com Chloe, a raiva dirigida a si mesmo e o desequilíbrio crescente do ambiente são pistas sutis que ganham novo significado após a revelação final.

O verdadeiro vilão
Enquanto o fantasma assume papel protetor, o verdadeiro terror de Presença é humano. Ryan não só tenta abusar de Chloe, como também foi responsável pelas mortes de suas amigas.
O que parecia um caso de overdose revela-se um duplo homicídio encoberto pela aparência de acidentes. Ryan age com frieza e experiência, deixando claro que não era a primeira vez que cometia crimes semelhantes.
Ao confrontar Ryan e sacrificando sua própria vida, Tyler impede que a história se repita. Sua morte, embora trágica, representa uma forma de justiça que o espírito já intuía antes mesmo do desfecho.
No fim, é Rebekah quem finalmente vê Tyler como espírito. A cena em frente ao espelho, com o grito de dor da mãe, simboliza o reconhecimento tardio da perda e da negligência afetiva. Enquanto Chloe encontra algum tipo de paz, a mãe se desfaz em arrependimento.
Presença se encerra como uma história de perda e reconciliação tardia. Chloe sobrevive, Tyler encontra redenção, e Rebekah é confrontada com a verdade. O horror não está apenas no que é invisível, mas no que foi ignorado tempo demais.
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