Uma pesquisa da Fea-Usp mostra que apenas 11% dos cargos de CFO no Brasil são ocupados por mulheres. A área financeira, tradicionalmente dominada por homens, continua a ser uma das mais difíceis para as mulheres alcançarem o topo, mesmo com o avanço da participação feminina no mundo corporativo. Para entender esse cenário, a reportagem ouviu especialistas e executivas, como Lucy Alquinas, mentora de lideranças femininas, que aborda as barreiras e as transformações em andamento.
As barreiras invisíveis
A ausência de mulheres em posições de CFO não é por falta de qualificação técnica. Na verdade, as barreiras são mais sutis e difíceis de combater. Elas incluem a falta de referências femininas em cargos de liderança, estereótipos de gênero, a dupla jornada de trabalho, a dificuldade de acesso a redes de contato estratégicas e a autossabotagem.
Segundo Lucy Alquinas, a falta de modelos femininos no topo faz com que muitas mulheres não considerem o cargo de CFO como uma meta possível. Ela destaca que a ideia de que a área financeira é “naturalmente masculina” ainda persiste, o que dificulta o avanço.
Habilidades além do domínio técnico
Para alcançar a liderança financeira, o domínio técnico não é suficiente. As profissionais precisam desenvolver novas habilidades, como capacidade estratégica, comunicação assertiva e a habilidade de influenciar na organização. Lucy Alquinas ressalta que muitas mulheres confiam apenas no trabalho técnico, mas em níveis mais altos, o jogo muda e é essencial saber se posicionar e defender uma visão.
Lucy Alquinas menciona três pilares essenciais para quem busca a liderança:
- Formação estratégica: O novo CFO precisa ter uma visão ampla, participando de conselhos e entendendo o cenário macroeconômico.
- Autoridade e visibilidade: É crucial se comunicar com clareza para ser ouvida pela diretoria e pelo mercado.
- Rede de contatos: Estar conectada a redes estratégicas é fundamental, pois muitas oportunidades surgem por meio de indicações.
O papel da mentoria e o cenário em transformação
A mentoria e as redes de apoio são fundamentais para as mulheres que desejam chegar ao C-level. O suporte emocional e os conselhos práticos ajudam a navegar em ambientes corporativos complexos. Lucy Alquinas enfatiza que os “contatos certos abrem portas que o currículo, sozinho, não consegue”.
Apesar dos desafios, o cenário está mudando. Empresas como Ibge (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) têm demonstrado que a presença de mulheres em cargos de liderança melhora o desempenho financeiro. O avanço feminino nas finanças exige ação intencional, com mulheres investindo em novas habilidades e redes de apoio. A presença feminina no topo das finanças é uma questão de estratégia, não de sorte.