Para o ator e roteirista Gabriel Coppola, transformar experiências pessoais em cinema é uma forma de cura e coragem. Cada gesto, cada silêncio e cada emoção que carrega consigo se tornam matéria-prima para criar arte, dando sentido e forma àquilo que antes era apenas vivido. É desse lugar íntimo e sensível que nasce Olhos em Mim, um curta-metragem que mostra como olhar para dentro de si mesmo, acolher vulnerabilidades e transformá-las em narrativa pode ser ao mesmo tempo um ato de determinação e de afeto.
Em pré-produção, Olhos em Mim é um drama psicológico com temática queer que mergulha nas complexidades do desejo reprimido e da identidade. Diferente dos trabalhos anteriores, o projeto marca um passo profundo na carreira do ator, que agora participa de todas as etapas da criação, tanto em frente quanto atrás das câmeras, vivenciando o cinema de maneira completa e transformadora.
O ponto de partida do projeto veio da própria vivência de Gabriel como artista. Em um momento de frustração e autocobrança, ele percebeu que havia muito guardado dentro de si, emoções que nunca foram totalmente explicadas, mas que pediam para ser vistas. “O filme nasceu desse espaço entre o que é dito e o que fica no silêncio. Transformar tudo isso em arte foi uma forma de ressignificar”, revela.
A força de Olhos em Mim está justamente na universalidade das emoções que atravessa. Gabriel percebeu que sua experiência pessoal, o medo de ser visto, o silêncio, a busca por aceitação, ecoa em outras pessoas. Assim, o filme deixa de ser apenas uma narrativa íntima para se tornar um espelho, capaz de refletir e tocar quem também carrega esses vazios.
O filme acompanha a história de Rafael (Gabriel Coppola), que, em um relacionamento estável, se vê confrontado por um desejo inesperado que desestabiliza suas certezas. Mas, para Gabriel, Olhos em Mim vai muito além de um enredo: é uma oportunidade de transformar emoções pessoais em expressão artística e, ao mesmo tempo, tocar outras pessoas. “Quando percebi que o que eu sentia não era só meu, que essa história podia atravessar outras pessoas também, entendi que o filme precisava existir para além de mim. Ele podia ser um espelho pra quem também sente e se reconhece nesses vazios”, reflete o artista.
Para o roteirista, cada cena e cada gesto carregam pedaços de sua própria vida. “Todas as partes de mim estão ali. Mesmo quando parece que não sou eu, sou. O filme carrega muito dos meus silêncios, das minhas contradições, das minhas tentativas de entender o mundo e a mim mesmo. Cada olhar, cada gesto, cada pausa tem um pouco do que eu vivi e também do que ainda não vivi, mas imagino. É isso que torna o processo tão vivo, ele vai mudando conforme eu mudo”.
Segundo Gabriel, escrever o roteiro de Olhos em Mim foi um ato eufórico, mais do que doloroso. Ele compara o processo a abrir uma represa: ao terminar, sentiu algo dentro de si se destravar e teve vontade de gravar imediatamente. Apesar da emoção envolvida, não houve melancolia, havia urgência, vida pulsando. Foi nesse momento que encontrou uma maneira de transformar tudo o que o atravessava em algo concreto.
A experiência de transformar algo tão íntimo em um trabalho coletivo foi intensa. Para o artista, esse processo é como uma mistura de vulnerabilidade e gratidão, ao ver outras pessoas se conectando com algo que nasceu profundamente dentro dele. “Cada pessoa traz um novo olhar, uma nova camada, e isso é o mais bonito: o íntimo se tornando coletivo. O que antes era sobre mim vira sobre nós”, ele completa.
Gabriel vê o cinema como um espaço de cura e autoconhecimento, onde é possível organizar o caos interno e transformar dor em expressão. Ele conta que, ao materializar suas emoções em imagem, a experiência deixa de ser apenas sofrimento e se torna uma forma de se reconectar consigo mesmo de maneira mais leve e consciente. “É um espaço onde posso simplesmente ser, sem precisar explicar”, reflete.
O elenco já está definido, mas ainda é mantido em segredo. O filme está previsto para estrear em festivais de 2026, e chega como uma obra sensível, intensa e transformadora, capaz de provocar sentimentos profundos e reflexões duradouras sobre identidade, desejo e o silêncio que carregamos dentro de nós.